quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Hoje eu resolvi fingir que eu não existo. Seria bastante formidável se eu conseguisse agir da mesma forma com os demais. Fazê-los invisíveis. Essa é a época de promessas. Eu só não odeio promessas como também odeio promessas que, não por pessimismo, não serão cumpridas. Serão esquecidas pelo sistema que vai te preencher. É uma sequência alastradora: prometer, entupir-se, esquecer. Você mesmo não dá espaço. Você mesmo comprime a longevidade dos teus calafrios de vivência. Você mesmo insiste em aniquilar - e nem percebe. Mas depois você se lembra. É fácil... Promete novamente. E esquece. O problema é que para se lembrar você precisa, primeiro, esquecer. Lembrar não é um bom sinal. Definitivamente.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Parece que eu estou bem por dentro. Que nada de errado anda acontecendo. Quando eu olho para o lado de fora eu simplesmente não vejo nada. Eu não sei se as outras pessoas também vivem. Eu não sei se está junto a mim à mesma realidade porque desde que me conheço por gente você é como eu insisto em imaginar. Parece tudo tão premeditado. Eu odeio com todas as minhas forças a forma nostálgica como você se habituou dentro de mim. Eu criei um tipo de concepção. Estou passando a me enojar disso. Tal como os monstros em que nos tornamos hoje - eu me tornei o sem pernas, o que não anda. E você tornou-se o sem ouvidos. Eu grito todos os dias o seu nome e você faz-se invisível a mim. Eu não queria ter a certeza de que você continua intacto, de que continua lá. Eu queria ter tudo despedaçado e concluir que já se foi. Eu não sou tão pessimista quanto pareço ser - eu me transformo como tal para não te imaginar. Para me convencer de que não existe. E eu sei que existe: sei que você está lá, sempre esteve e estará para sempre. Porque eu transformei isso. Eu moldei essa figura. Eu penso dessa forma. E não importa quantos adeus você dirá em seu eterno silêncio. Você está aqui. Sempre esteve.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

E como nem de toda a terra brotam flores eu me deixo. Me deixo silenciosamente. Do mesmo modo em que adentro a tal nova realidade. Eu não a quis enxergar. Eu quis viver onde fosse menos doloroso para a minha consciência. Mas eu não vivia. Apenas. Porque a consciência e a alma não fazem par. Elas são tão contraditórias quanto os olhos que apenas veem. Os olhos que não mandam mensagens. Os olhos que não permitem ao corpo sentir. E tenho plena ciência de que serei morna. Morna. Um pouco de nada com coisa nenhuma. Eu nunca fiz diferença e nem me esforcei a fazer. Eu sempre estive cansada. Hoje eu repouso na rede lá fora e vejo o quão gigantesco é o desgaste que causei a mim mesma. E vejo que não há mais tempo. Não há mais tempo para o vazio.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Ainda me custa entender porque diabos as pessoas insistem nessa maldita ilusão. Eu sempre caio em angústia quando tento pensar como os outros. Eu não me prendo por uma faixa de tempo tão longa quanto eles. Eu não me submeto. Eu não consigo. Eu não consigo ser esse tipo de pessoa. Eu vou me manter no auge da rebeldia - do ponto de vista social - enquanto puder para não decair da forma como venho decaindo. Eu não consigo ser qualquer outro tipo de pessoa se não eu. Eu prefiro acordar todos os dias de consciência suja. Eu prefiro que as pessoas continuem a me ver como me veem e que continuem a me tornar mais depressiva do que o normal. Enquanto elas pensam eu escrevo. Eu vou me tornando forte como uma mão cheia de calos. É um tipo de proteção. A própria dor cura a dor. Eu vou continuar sendo esse tipo de pessoa que não se encaixa ao nível de persuasão. Que não adequa-se.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Não há nada que te prenda a lugar algum. Não há uma medida, um padrão. Você anula a si mesmo continuamente. Você se sufoca sozinho. Cada dia que passa não te atribui a nada porque você está simplesmente subtraindo sua própria existência. Cada dia que passa é uma dia menos - e não há experiência ou lição de vida que te salve disso. Que te conforte. De nada adianta definir-se persistentemente no que nunca existiu. A moral e a hipocrisia estão difundidas entre si. E eu sempre odiei isso. O morno e o meio-termo sempre me incomodaram. Não existe meio justo, meio ruim, meio amargo, meio amor. Não existe meio você. E eu decidi não desistir de mim.
E não sai de mim. Não há nada em mim. Eu precisei aprender a conviver com o nó na garganta. Obrigatoriamente. Eu sempre quis viver. Mas sempre fui impedida de fazê-lo - sempre e à uma medida trilhões de vezes maior. Eu sinto o peso. Eu não estou evitando olhar lá fora como fazia antes. Eu tenho medo de um dia perder a percepção. Eu tenho medo de que um dia eu acorde sem ter do que falar. Os cafés não vão tirar o meu sono porque eu vou ter insônia. Ninguém é capaz de descansar em paz enquanto percebe que não pode deixar de se vigiar. Prestar atenção minusiosamente no que pensa. Eu não sei o que esperar de mim. Eu acho isso podre.
Como se subitamente toda a vontade de abrir a janela numa manhã de sol desaparecesse. Como se todas as rosas já não fossem mais vermelhas. Nem azuis. Já não seriam mais rosas. Como se nascessem murchas. Se toda a folha que caísse no chão sentisse seu peso sobre si e se destruísse lentamente. Os passáros não cantam. Só há o silêncio. O vazio cheio de dimensões que te impulsionam a enxergar uma série de caminhos aos quais você já percorreu. Vivendo uma história já narrada. Tudo premeditadamente insuportável. Eu já estava morta há muito tempo.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Eu estou inserida. Eu também sou uma espécie de produto das circunstâncias. Eu faço parte. Tenho tido medo do tipo de pessoa em que me tornei.

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Eu não vou encontrar razão para nada disso. Mas sei que vou me arrepender muito. Amargamente e muito. Eu não vou me perdoar por ter aceitado tudo isso por tanto tempo. Não existe essa história de aprendizado. Nunca vamos aprender com os erros porque nós estamos para eles, à medida que o cometemos, cada vez mais vulneráveis. Podemos aprender, mas nunca o colocaremos em prática. Nós nunca vamos deixar de errar. E eu não errei. O erro não foi meu. Eu espero que você sinta essa coisa horrível a uma proporção muito maior do que eu estou sentindo. Eu espero que você perca noites de sono a pensar no que fez. Eu espero que você sofra muito. Afinal, a sociedade nos impõe a pensar que errar não é tão ruim quanto parece. Enquanto eu estiver sendo obrigada - demasiadamente obrigada - a sofrer por um erro que não cometi, você deve se sujeitar a pensar na possibilidade de pagar por isso futuramente. A carga não está nada leve. Você fez o favor de me sobrecarregar. Eu espero que você morra se sentindo culpado por isso.

sábado, 27 de novembro de 2010

Me deixe, pelo amor de Deus. Eu vou suplicar até que essa angústia saia de mim. Eu vou me ajoelhar. Eu vou implorar para que os dias deixem de se tornar noites e para que o sol entre pela janela. Vá embora ou me deixe ir. Não tem nada com isso. É só eu mesma tentando fazer com que você saia de mim. Você já saiu. Mas eu preciso me permitir antes de mais nada.
A diferença não é o quanto a pessoa gosta de você, mas o quanto ela gosta dela mesma.
Eu não nasci com nada disso. Eu fui me transformando lenta e friamente no que sou. Eu gostaria de mudar tudo isso. Eu gostaria de ver o céu azul que está lá fora, mas as nuvens negras e chuvosas sempre me pareceram mais formidáveis. E todo o amor que eu tenho em mim não me faz bem. Eu não posso mudar o seu percurso. Eu preciso usá-lo ao meu favor porque ele é quem está me matando.
A coisa mais péssima que existe é ter que contar com a incerteza. Deixar um espaço reservado para o que você não sabe. Não ter controle. A coisa mais péssima de viver é não saber. E principalmente: ter que se conformar com isso. Nós não sabemos nada. Absolutamente nada. Nem um milésimo do que está escondido. Eu parei de confiar em pessoas a partir de hoje.

sábado, 20 de novembro de 2010

Eu não quero mais escrever um livro. Eu não o leria mais de duas vezes - isso não significa lê-lo por inteiro. Eu só leria as partes felizes. E eu teria ciência de que estava mentindo naquele momento porque não acredito nessa maldita felicidade. Eu a odeio e isso é retrógrado de sua parte. Eu não escreveria um livro porque todas as vezes que ousaria lê-lo obrigatoriamente insistiria em imaginar que aquela garota não era eu. E nesse momento o que eu mais preciso é de mim. Eu preciso ser eu. Não vou mais me deixar de lado por nada nem ninguém. Já não vou mais me desgastar tanto quanto antes. Eu quero que todos se explodam. E mesmo que a vontade doentia de impedir isso tome posse de mim, eu vou me conter numa eterna indiferença.
Não será hoje. E isso não se deve ao fato de ter sido tão súbito e tão novo. Não existe quem sabe um dia. Eu nunca vou te perdoar.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Eu estou me sentindo isolada. Dentro de mim há uma multidão de coisas. Eu odeio usar essa palavra - mas sei que são tantas que não existe ao menos para o que se resumir. É pouco de muita coisa. Muita coisa diferente. Por dentro eu me sinto um pouco de tudo. Por dentro eu posso tudo - e sou tudo o que quiser. Diversificada. Mas por fora eu não me sinto em liberdade. E a liberdade - depois da paz de espírito - é o bem maior que se pode ter. Eu não me sinto livre. Sinto que se correr para esquerda ou para a direita estarei no mesmo lugar. Sempre. E também estou farta de viver por dentro, de viver o que é interno. Eu quero jogar tudo isso fora. Eu quero a minha liberdade.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Eu quero ir embora.
Neste momento todas essas palavras são nulas. Eu preciso admitir que não sei bem do que estou falando. Eu não estou calculando bem. Elas estão saindo por entre os meus dedos: eu faço força para segurá-las. Mas elas acabam escapando. Eu não quero saber a verdade. Estou pouco me lixando para ela. Não existe verdade. A única coisa que existe é a exatidão - e ela não pode ser confundida com a verdade. A verdade pode ser até mesmo uma mentira. E a mentira também é exata. Eu te suplico. Eu não quero viver de mentiras e muito menos de verdades. Eu quero viver uma coisa exata. Eu sei que quero continuar. Eu quero viver.
Eu não posso esquecer o quanto isso é ridículo. E muito menos a gigantesca hipocrisia que existe nisso tudo. Eu não posso esquecer que amanhã eu vou acordar pior do que hoje. E um motivo tão minúsculo, tão intransigente de sua própria natureza. Por não poder aceitar o que é o lado de dentro não aceita o que pode vir a ser o lado de fora. Eu já não tenho medo do que pode haver lá. Eu já não vejo como antes. Eu estou com muita raiva. Eu posso sentir ela passando por dentro de mim me incentivando a fazer coisas horríveis. Eu não posso acabar com isso agora. Eu não posso ser covarde - eu vou até o fim. Eu já não sei se as coisas devem realmente fazer sentido. Você nasce sendo obrigado a aceitar um trilhão de atrocidades para ter o direito de levar uma vida relativamente morna em paz. E essa vida que lhes é fornecida - e que você é obrigado a seguir - é simplesmente insignificante. Você é obrigado a aceitá-la se não quiser morrer. Se não quiser tirar a sua própria vida. Mas eu vou morrer ao poucos se aceitar tudo isso. Em sã consciência eu não consiguiria viver como me obrigam. Me desculpe.
É tão incompleto... É simplesmente inválido. Sem valor. Eu não gosto desse cheiro. Tem cheiro de desespero. As pessoas lá fora tentam ser feliz o tempo todo. Eu não posso acompanhar o ritmo. Eu gosto da angústia porque, com ela, eu consigo ver o que é podre. Talvez se não a sentisse, eu estaria acompanhando esse ritmo hipócrita. Só não sei até onde isso é bom. Não estou fora do padrão: eu só vejo o que alguns não vêem. E, se tentasse fingir que tudo o que vejo é insignificante, eu sentiria como se estivesse me traindo. Algo dentro de mim começaria a me ofender. Diria que sou fraca e estaria me sujeitando a ser um deles. Essa coisa me faria chorar. Ela é misantrópica, eu não. Eu acho que preciso de ajuda.
Eu preciso que chova. Que chova sem parar. Que a água caia em meu rosto e leve tudo embora. Para sempre. Eu preciso que escorra a água da chuva sobre a minha alma. Só a água da chuva vai levar tudo isso embora. E eu vou me sentir limpa, pura. Eu vou começar tudo do marco zero. Eu vou andar à cavalo, vou andar descalça. Eu vou descobrir o mundo de novo. E todos os dias eu vou deixar meus medos irem embora com a água da chuva. E vai chover dentro de mim também. E eu vou ser tão feliz que não vou mais sentir nada. Eu vou pedir para que tirem a minha vida. E eu não vou sentir.

domingo, 14 de novembro de 2010

É o desespero que você sente quando percebe que todos os caminhos darão ao mesmo final. E que, não tardando, você descobrirá que sempre soube disso. Mais do que ninguém. Mas você insiste em se mexer. Não suporta ficar parado. Mas você sabe que não fará diferença. Que o produto será sempre a sua própria sombra - a sombra que nunca te preencheu mas que sempre esteve ao seu lado. E esta sombra é a sua fragilidade, o seu medo, o seu pavor. É o desespero. Eu ainda não sei porque diabos as pessoas andam por caminhos que já conhecem. Eu tenho plena ciência que vou cair. Vou me machucar. E vou passar a vida inteira me lamentando por isso. Eu estou desesperada nesse momento. Eu preciso de um caminho desconhecido. De uma história que eu não saiba. Eu não posso mais ouvir a mesma música. Eu não posso mais ver tudo acontecer premeditadamente. Como se eu soubesse todas as falas de uma peça e insistisse em assisti-la. Eu estou me deixando e deixando tudo o que esteve junto a mim. Eu estou deixando. Lenta e friamente. Como se não quisesse soltar as mãos do meu próprio desapego. Eu continuo olhando para trás e nossas mãos estão soltando-nas uma à outra. Lentamente. Até que estejam totalmente livres e eu esteja sozinha como antes. E agora para sempre - porque eu já sei o final de todos os caminhos. E não quero seguí-los.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Estou com uma tremenda preguiça de ser eu. De acordar, de ter que me encarar todos os dias defronta ao espelho. Essa coisa que venho sentindo já não me causa grande efeito: é como se ela tivesse se tornado uma parte do que sou. Assim como um cego sem fé, cuja única saída é aprender a viver do jeito que lhes é menos doloroso. Eu não sinto mais. Não me importo. Continuo vulnerável, mas as coisas passam tão e somente despercebidas. É, eu estou olhando para o outro lado. Se estivesse tentando me consumir de mim mesma estaria sentindo tudo aquilo novamente. Mas eu continuo olhando para o lado de lá. E não vejo mais nada.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

 Hoje, mais do que nunca, eu acordei com meus sonhos reprimidos à flor da pele. Descascados, revelados. Uma vontade insana de correr sem destino. Porém, sabendo que estou a buscá-los. E isso tudo não significa que eu esteja afim de me livrar das dificuldades. Quero sentir todas as sensações. Rigorosamente. Eu não quero perder mais nada - nem mesmo um milésimo de aflição. Eu quero sentir o silêncio falado de um não, o desencorajamento de alguns. Eu quero trilhar o caminho certo e, mais ainda, o errado. Eu não viveria em paz sem saber o que há por dentro dele. Além do mais, o concreto e a exatidão não me permitiriam tropeçar. Eu sei que gosto da dor. Só não gosto de chorar. Para isso escrevo: tudo o que ousa sair em lágrimas se transforma em letras.
Cheguei à grande conclusão da minha vida: eu não preciso de mim. Não preciso das minhas lamentações. Não preciso dos meus medos. Não preciso das minhas angústias, tampouco da minha felicidade eufórica e momentânea. Não preciso de nada disso.

sábado, 30 de outubro de 2010

Eu não tenho uma história. É incrivelmente perturbadora a forma como desvio de um assunto para trilhar em um mar de minúsculos detalhes. Os detalhes sempre me impressionaram. Eu os escolheria. O exato segundo em que um ataque cardíaco faz um coração parar de trabalhar, para mim, é mais assustador do que a própria morte. Eu não saberia descrever bem essa minha ladainha de disfarces. Mas sei que não disfarço bem. Eu estou equivocada com meus próprios detalhes. Eles me dispersam do que é de real importância. Eles me fazem pensar como seria se fosse do jeito que se fizeram ou não, imaginar um trilhão de possibilidades - e estas, por sua vez, me fazem esquecer de tudo. Eu preferia não prestar tanta atenção. Eu preferia ter um senso comum. Eu preferia não ter que dar explicações à tudo. Tornar sentimentos em coisas científicas fazem com que eles percam totalmente o sentido. Todas as pessoas deveriam saber que o amor é uma coisa que pode ser explicada cientificamente para que ninguém mais dissesse que não há cura para o mesmo.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

As minhas palavras parecem deixar vazar coisas entre seus espaços. Parecem transbordar por detrás delas mesmas. Eu sou uma retórica para mim. Eu vivo constantemente lutando para me convencer de que sou eu.
Eu estive tentando me submeter a alguma coisa. Talvez isso me livrasse da vazão de ser. Aquela empolgação momentânea que as pessoas sentem por coisas que elas mesmas sabem que, futuramente, lhes causará vergonha. Mas esse instante recompensa a segunda ocasião. Me parece formidável saber o que é ser feliz nem que seja apenas por um minuto. No entanto, descobrir a felicidade também me causa medo. Um minuto da tal consegue amargurar cinquenta anos vividos em profunda angústia. Eu não sei bem se seria melhor viver uma vida inteira sem tirar-lhe uma lasca ou viver infeliz por ter sentido seu sabor ofegante. Mas nesse momento estou, impreterivelmente, disposta a senti-la por esse tempo delimitado. Eu preciso provar de tudo antes que o tempo passe e as coisas pareçam perder o sentido.
Eu odeio necessitar que estejam dispostos a me ouvir pacientemente sem que queiram me esmurrar. Seria menos doloroso que essa ânsia se expressasse visivelmente a mim do que se a mesma fosse disfarçada com palavras que foram ditas por um impulso de cordialidade. Entre todas as coisas no mundo que eu sempre odiei - as muitas - o fato de as pessoas sentirem satisfação em tornarem-se inconvenientes sempre me causou profunda repugnância. Eu gostaria de saber o que as agrega de tão bom para agirem de tal forma. Por não saber, não me resta nada a não ser me perguntar todos os dias se estou causando algum mal fazendo transbordar as minhas convicções. Não sei se poderiam ser atribuídas à minha vontade de mudar o que está errado. Mas... Errado comparado a quê? Eu não vejo escolha. Eu não vejo escolha a não ser olhar no espelho e me convencer de que este mundo não é para mim. Eu também não sou para ele. E nós estaremos em relativa paz enquanto eu procurar me conformar. Eu preciso me submeter a uma só verdade: a que não existe. Por este simples fato, tudo poderia parecer vago. Mas essa sensação de que nada existe me parece mais complexa do que uma aglomeração de verdades confusas.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Eu não quero mais derramar nada - nem as minhas lágrimas nem as minhas forças. Eu não quero mais fazer força para nada. Eu não quero mais sentir. Vai começar tudo de novo. Não posso deixar... Eu vou me dedicar ao vazio. Eu vou me dedicar ao que não existe. Seria mais formidável atunar o que há em mim e escancarar para compreenderem que isso não me atinge. Seria mais conveniente ser formidável e não ser nada. Seria formidável não ser. Eu prefiro a minha tese que custei a sustentar. Eu prefiro ser essa multidão de coisas - mas elas sempre se resumem a nada. Insistem em se resumir ao vazio que eu sempre temi. Tudo, menos o vazio. Ele não faz bem a ninguém. Ninguém pode ser tão vazio assim quanto imagino. Ninguém pode ser tão desgastante quanto a dor que você traz a si mesmo. A dor é alguém. Ela não é sentimento: ela corrói fisicamente.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Como o que reluz... Você vê o brilho, vê a luz. Mas, repare: nunca se vê o que há verdadeiramente. Você sabe que precisa disso. Você tem consciência de que é a luz que, por vezes, te fez olhar atentamente com os olhos quase que fechados para que, incessantemente, tente enxergar o que há de tão extraordinário. Você faz muita força para compreendê-la. Mas saiba: nem sempre é o final do túnel. Você sabe que pode acabar com a sua vida em uma fração de segundos. Mas sabe que precisa continuar olhando para aquela luz. Sabe que precisa desvendá-la. Não é você quem pede - tampouco seu coração. O que te induz a essa busca é outro mistério ao qual você não se importa em desvendar - pelomenos agora. Contanto que veja a luz. Ela é a sua grande ocupação deste momento: você não pode parar de olhá-la. Não consegue. Qualquer esforço será inútil. É completamente distinto da curiosidade - é necessidade. Você precisa da luz e, agora, nada será bom o suficiente para desviar sua atenção - até que ela se apague como a noite após o dia e você a encare como o primeiro passo ao se levantar. Aí a escolha será sua. Estará em suas mãos encará-la: agradecendo por mais um amanhecer ou lamentando-se com o desejo de jamais ter acordado.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Não levo com relevância a possibilidade disso tudo ser uma loucura. Até porquê, me viciei em tudo isso - não é de meu costume levar loucuras a sério. Sem nada disso talvez eu não estivesse tentando me mover. Talvez eu estivesse vivendo um sedentarismo vicioso. É engraçado como as pessoas sempre se recusam a lutar por si mesmas. E eu, por vezes me arrependi por não ter deixado me alienar, de ter descoberto toda essa podridão. Porém, agora vejo que a felicidade que sentiria nesse doping de sentimentos jamais poderia ser verdadeira. Eu poderia viver bem sem saber disso. Eu poderia nunca descobrir que a felicidade que eu poderia ter vivido era um completo teatro mal encenado - e seria o suficiente para me ludribriar. Mas eu estaria integrando ao grupo dos alienados. Dos que são vistos como fracos para os seus supostos superiores. E sempre senti horror pela possibilidade de ser vista como fraca - e muito menos ser desse caráter. Isto bastou para que deixasse de me arrepender por ter chegado até aqui.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sinto uma vontade absurda de aprimorar o que consisto. De cultivar o que há em mim, de cuidar para nunca perdê-lo. Sinto que é preciso persistir numa busca sem tesouro, uma estrada para onde não se sabe o fim. Um caminho sem destino. Isto parece transbordar. Talvez seja preciso fugir - ainda não descobri do quê, para onde e, principalmente, como. Eu mesma estou me cobrando isto. Não sei como me suprir. Pareço uma evasão para mim mesma. Pareço não me satisfazer, não condizer minhas ações com o que exprimo aos pensamentos. Não sei se posso ser o suficiente para os meus sonhos - ao contrário dos que nada sonham, eu sou pequena diante dos meus objetivos. Eu não sei. Talvez a vida não seja nada disso. Estou farta dos porquês - eles nunca foram voluntários a mim. Não sei o que corre em meu coração, mas sei que é incontrolável. Fácil seria cuidar disso para não senti-lo mais. Mas é preciso descobri-lo antes que se faça mais forte que eu.

meio caminho andado

Ao longo da minha curta jornada que até então vivi, tive que concluir que o que eu sempre custei a deixar de gostar era de pessoas. Independentemente de quaisquer circustâncias. Não sei como, mas observá-las sempre me agregava uma imensa satisfação. E tinham que ser, se possível, umas bem distintas das outras. Assim era fantástico: gente com pensamentos certos, gente com pensamentos errados. Gente sem pensamento. Sempre procurei em cada ser um brilho individual - talvez por nunca ter encontrado o meu. E hoje, cheguei à conclusão, mais uma vez, que a nenhum ser humano é de direito enxergar seu próprio brilho. E tal recusa não se dá por uma questão de modéstia - mas sim de bom senso. Se vierem a descobri-lo tentarão modificá-lo. E, assim, esse brilho perderá sua preciosa essência. Cada pessoa deve obrigatoriamente permitir que seu brilho brilhe por si só - e jamais por uma questão de competência.

sábado, 25 de setembro de 2010

 Eu vivo lutando contra o eu que existe em mim, disfarçando minha dor - que corre tão e mais rápido que o mesmo. Muito embora viva na persistência, tive que concluir que, em verdade, a dor é o meu estado normal: dissimulo apenas quando aparento uma falsa e interminável felicidade.

Pois é

Não quero ver a sua felicidade. Mas não pense que o motivo desta aversão pelo seu sorriso seja pelo fato dele anular o meu. Não. Só não posso me permitir ver alguém se perder tanto. Se destruir tanto. O que você chama de felicidade... É um crime contra a própria. Você realmente deveria saber - é o meu desejo, muito embora não esteja com vontade de lhe ensinar. Primeiro que, para tanto, é necessário que você se ferre muito. Que sofra muito, que tenha muita dor, um vazio impreenchível. É necessário que você caia em tentação tantas vezes forem necessárias até que você se enoje dela e de si mesmo por tê-la cometido. É crucial que você chore, para que descubra sozinho que sempre se enganou. E que ninguém mais te ajudou nisso. Só você. Então, estará apto a ser feliz.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

eu acho que

Eles se matam tanto por aquilo, se matam tanto para ser aquilo. Sinceramente, não sei como vocês conseguem. Não sei como conseguem se esforçar tanto para se formularem medíocres - e eu que pensava que isso fosse congênito. Não sei como vocês conseguem. Eu me canso só de ver.

esse é você

Quero sustentar a verdade que nenhum de nós ousa dizer. Escrevo por tantas coisas, mas para você, sempre me faltaram as palavras. Quando elas tendem a aparacer, parecem vagas. Imprecisas. Nunca expressam o que eu realmente gostaria que você soubesse.
A verdade é que, hoje, vivo para me convencer de que nada mudou - o passado que, por vezes custa a desaparecer, me leva a cometer esse crime contra minha própria existência. Mas você nunca vai voltar, porque hoje você é, pura e simplesmente, o contrário daquilo que um dia vieste a ser e que me fez amá-lo. Entenda: o que eu quero não é necessariamente que você volte para perto, mas sim que volte para si mesmo. Que continuasse sendo o que sempre foi. E não que as palavras continuassem as mesmas, mas que eu pudesse ter a certeza de que aquele tipo de pessoa ainda existe. Tenho a impressão de que é necessário partir - mas a dor tem uma aceleração absurda dentro de mim. Simples seria se, para solucioná-la, fosse preciso, também, excancará-la, sair correndo, gritar por socorro. Por você eu faria tudo isso sem exitar. Faria tudo isso todas as vezes que me fosse conveniente - e, talvez, até as talvez não fossem. No entanto você já não é a pessoa por quem eu faria isso. Lamentavelmente, não o conheço mais. Ambos saímos derrotados. O problema é a certeza que insiste em viver dentro de mim. Até então ainda não descobri o que me faz crê-la, mas sei que é forte demais. E creio cegamente. E essa mesma certeza me faz querer fazer de tudo para tê-lo. No entanto, uma segunda força maior me impede. E não tenho coragem. Quando tento, tenho aquela mesma sensação de que não o conheço mais para tanto. Antes poderia prever qualquer reação que por ocasião viesse a ter. No entanto, agora já não sei. Parece um estranho. Um estranho e uma parte de mim - ambas e, respectivamente, ao mesmo tempo.

é mesmo

Quando ele adentrou à sala, já prevera todo o agora. Já sabia que o odiaria - não era por medo. E esse ódio me impedira de respeitá-lo. O passar do tempo só me fez convencer de que nunca estive tão certa. Aquele ar palhaço que sempre persistiu em ter mal me fazia cócegas. Só fazia aumentar o ódio. Mas como já ouvira dizer este mesmo ódio foi o que criou uma barreira em minha própria consciência - quando me dei conta, já não sabia mais porque tanto o odiava. E o tal do ódio se tornou em angústia. De súbito, já não me fizera relativamente superior àquela situação como antes, mas sim fraca, vulnerável. Poderia acabar com tudo isso em uma fração de milésimos, entretanto, para mim, não convinha aceitar que tinha me voltado contra meu próprio ser. Isto me parecia mais doloroso do que o próprio ódio. E acabava por me despertar mais raiva - o que, consequentemente, me agregava mais angústia. E mais raiva. E mais angústia, e mais raiva...

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

...

Esse é o momento - e sempre foi. Único. Impiedoso. Faz de você o que menos gostaria de ser. Muito embora já não mais viva sem os seus segundos indeterminados, seu eu tem ciência que, de tão precisos, são convenientes a mudar sua vida para sempre. E quando então já se der conta, ele já tomou de todo o teu ser. De toda a sua capacidade de ludibriar o que se passa dentro de si mesmo. Os teus próprios sentimentos. Se não a você mesmo, você já não pode enganar a mais ninguém. Não haverá para onde fugir: ele será você mesmo.

Parem de ser, pessoas.

Poderia sacrificar a minha vida a começar de uma forma avassaladora, pura e simplesmente à margem do que todo ser humano necessita e se opõe a ouvir. Mas seriam tantas palavras inúteis que de tão vãs poderia se fazer sátira. E me remeto ao título, uma obrigatória súplica. Parem de ser. Vocês vão se cansar. Essa luta não é contínua - amanhã não já serão mais. Parem de ser. Reservem-se ao menos uma hora de seus intermináveis, para alguns, ou súbitos, para outros, dias. Tão quanto ser tudo, ser nada é extremamente viciante.