quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Essa grosseria de preceitos. Impregnante, repugnante. É como correr correndo, sentir sentindo, amar amando... É tão e somente cinza. Não tem cheiro - pelo menos nenhum apto a conceder vida a tal martírio. Acostumaram-se com o cheiro de chuva e as roupas desbotadas. Eu sinto que tudo isto é uma afronta a minha capacidade de, ardentemente, desejar. E talvez por uma multidão de hipocrisias eu jamais o descreva com precisão. Mas é certo: meus olhos veem, meu coração sente, meus pulmões respiram, meu corpo presencia, minha alma o detesta. Entretanto, meu consciente é incapaz de reproduzir tamanha divergência entre enredo e ação. Vida e viver.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sonhando acordado. Fingindo que sonha. Fingindo crer que tudo é tão possível quanto desprezível. Está tudo tão ao seu alcance. Vive por se vangloriar de sua existência enquanto, em verdade, não garante sua própria sobrevivência.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Aflingia-lhe a espinha pensar. Pensar que, novamente, deveria ter o autocontrole e guiar-se à todas as suas ações - e também pensamentos. A liberdade que detinha até então se desvanecia à medida que os lábios já não mais sorriam. E de todas as dores, a pior era saber que tudo então não seria suficientemente convincente à sua alma para devolvê-la a vida. Nada seria suficientemente colorido para pôr-lhe na cabeça de que é necessário viver. Tão e somente necessário quanto assegurar tudo aquilo que já estava em mãos. Muito embora isto bastasse para esgotar sua vivacidade, tinha ciência de que não era e jamais teria sido a questão mais importante de sua vida. Mas perdia-se no acaso e perdia-se na imaginação que projetava sua vida aniquilada. E era simples. Era tão simples. Sabia disto. Porém recusava-se a viver e recusava-se, principalmente, a viver sua própria vida - ao que nunca teria exercido qualquer controle.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Em ocasião talvez eu me submeteria à qualquer mandamento. A primeira palavra que chegasse aos meus ouvidos seria suficientemente válida a me preencher. Eu busquei incessantemente qualquer coisa que brotasse nesta infertilidade toda. Infertilidade total: pensamentos, ações, dizeres e sentidos. A coragem colocada à prova. A imensidão de fadigas acumuladas. O acúmulo de morais as quais, por fim, se resumem a nada. E ontem eu estive, mais uma vez, observando cores e diferentes jardins. Observando pessoas e suas faltas - principalmente a falta de vida. Tanta vida perdida, tanta vida desperdiçada, tanta vida que lhes faltam! O jardim com certeza tem mais vida. O jardim tem cores. Pessoas são palidamente cruéis e desformes. Não há tempo que desforme-as mais do que a elas mesmas. Por acreditarem cegamente no sentido acabam por perderem a direção. Questionam umas às outras onde está o porquê. Mas elas nunca mereceram saber e, muito embora vivam, não fazem parte da vida. Ao menos não como as flores dos jardins.

domingo, 3 de julho de 2011

Eu estive durante muito tempo me perguntando. Eu estive durante muito tempo avistando algo. Estive e, não por acaso, saberia que ainda hoje estou. Me faço todos os dias a mesma pergunta. Me descubro e rapidamente me cubro. A minha face que, à revelia, não poderia ser vista por ninguém. A minha deixa que ninguém mais poderia desvendar senão a minha magnetude que sequer entende porque tantas vezes agi da forma mais cruel, da forma que eu sabia que causaria dor. E muita dor. Porque dessas inúmeras vezes, nenhuma eu me assumi como pessoa, como pessoa vulnerável à quaisquer sentimentos e à quaisquer erros. Eu não admito pensar que, pelo menos uma vez, eu entrei em contradição com meus ideais. Eles me propuseram uma caverna cercada por vidros. Eu vejo o que há lá fora, entretanto ninguém pode me ver. E se fora um dia percebida, hoje minhas palavras já não são encaradas como antes. Isso tudo ficou tão insuportável. Eu preciso admitir que me voltei contra mim mesma porque não suporto mais pensar, agir, sentir ou tocar da maneira que venho fazendo há tanto. Eu preciso de alguma espécie de corda que me puxe para o lado de fora - para onde há a tão chamada luz. A condescência de cura. Curar a si mesmo.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A vida sempre lhe bastou como um medíocre pensamento. Pensamento pelo qual você sempre seguiu à risca. Seguiu com a crença de que tudo depende crucialmente de uma força advinda de você mesmo. E então se esforça a pensar positivamente, a cativar sua vivacidade. Quando então, em uma manhã chuvosa, se vê palidamente disforme ao espelho. Passa a não se suportar. Tenta dormir. Tenta fingir que tudo é tão passageiro quanto intenso. Tenta medir a sua culpa em todos os seus pensamentos. Tenta pensar que haverá flores ao seu redor quando então abrir os olhos. E de repente tudo passa a ser tão pálido quanto o seu sorriso. Tudo passa a ser tão disforme quanto o seu reflexo. Mantém os olhos abertos. Entretando sente o peso das lágrimas que você insistentemente engole. Não suporta não se suportar. Não suporta tudo tão pálido. Não suporta pensar que precisa viver e, novamente, ser forte. Não suporta pensar no futuro. Ele parece nunca chegar. Parece rir. É preferível que chegue logo e acabe com a angústia. Eu prefiro dar a minha cara a tapa - mas tudo parece interminavelmente prolongado. E será assim até que chegue e toque a campanhia. Chega a ser perturbador. Na infância, o barulho da campanhia sempre pareceu tão animador. Quem será? - alguém sempre chegava. Haviam cores e, mesmo na chuva, as flores pareciam felizes. A água as banhavam enquanto pareciam sorrir. A felicidade era proporcional à angústia que perturba então. O cenário. Chuva e campanhia.

domingo, 8 de maio de 2011

Eu persisti. Porém, em verdade, eu fiz força para me manter inerte. Me assegurei, manti a face, o deboche e a indiferença. Só recebi a encomenda. E só. Não cogitei nenhuma possibilidade, não me importei com o desconhecido. Eu me entreguei à história que nunca existiu. Porque, de todas as vezes, eu não esperei pela recompensa. Eu não avistei. Me veio como anônimo - o anonimato que eu não hesitei em temer. As vozes presas pela medíocre supressão estão à tona. Estendem defronta à minha indiferença toda a camuflagem  à qual eu me submeti. Todo o vazio que, então, substitui as vendas que tapavam meus olhos, toda a anulação, toda a instabilidade. Eu persisti em fingir que daquela vez em diante tudo estaria bem. Que era a minha hora. E me voltei contra mim mesma. Debochei das minhas crenças. Agora elas querem vingar a minha ingratidão. Elas riem também. Acham engraçado o fato de ter me deixado iludir, ter me mostrado tão medíocre. Ter sido, por tanto tempo, o que eu sempre repudiei. Elas sempre souberam o final desta história e não tomaram frente em impedir. Tudo o que elas querem é me fazer crer que a infelicidade é a minha casa, a minha chave - a mesma que assegura e detém.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Tão insípido... O que se mostra relativamente apalpável é a saída. O escape que anula a insegurança e que existe, tão e somente, para certificar a possibilidade de fuga. Para justificar todas as falhas e julgar-me uma a uma. Porque a porta está aberta e, portanto, o fracasso é de minha responsabilidade. Eu poderia optar e não carregar o peso. Carregar o peso sob o sol escaldante enquanto os olhos tentam manter-se abertos. O sol que não permite ver o ponto de chegada - tampouco o de partida. Não se sabe sequer o quanto se caminhou ou o quanto resta a caminhar. Não se sabe onde está. Não há uma medida, um peso, qualquer unidade de escolha. Porque a saída sempre esteve diante à minha tolerância e teimosia. As duas se aniquilavam. Uma batalha sangrenta que me impedia de cogitar qualquer pensamento ou reflexão. Eu não pensei. Tinha ciência  que se parasse, por um milésimo, me deleitaria. Desistiria. Não refletir serviu-me como um impulso muito mais estimulador do que um racionalismo mal colocado. Uma projeção. Tudo presumidamente calculado. Estocado. Desordem e barulho perturbadores que te obrigam a agir e a não olhar para nada. A guerriar e se ensanguentar por inteiro - mesmo enquanto a saída, com seu farelo de luz e sua paz, fazem frente aos teus olhos cansados.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

E todas as vezes que tentei eu voltei à mim mesma. Tudo tão impreciso, estático. Chega a fazer eco. O som que tormenta apenas por não soar-se aos ouvidos de quem espera alguma espécie de respiração - não somente pegadas na areia. De quem espera vida e não necessariamente existência. De ir e voltar, da ciência de que não há o que lhe tire a paz. Simplesmente porque o sol nasceu hoje e isso já lhe basta ao sorriso. E supre, preenche. Som, música, respirar, sentir... O vento tecendo os cabelos. Pega-os emprestados. Parece um tecido - você chega a reconhecê-lo. É o tecido ao qual você quer deitar e dormir. Suspirar. Deitar no tecido branco e reluzente. Onde é capaz de ver com as mãos a paz que lhe é dada para o resto da vida.

sábado, 26 de março de 2011

É o cansaço dessa minha redundância. Do anseio de ser eu e, respectivamente, ser alguém. Uma pré-destinação mal colocada. Por vezes eu volto ao mesmo lugar com o refúgio pensamento de que nunca deveria ter saído. Me asseguro... Dou o giro. Eu meço a prosa. O que contém não detém a fobia de não ser o que se espera que seja. Não falar o que se espera aos ouvidos. Não aceitar o que me foi entregue. Uma bordada ingratidão à qual eu pagaria o preço pela eternidade dos meus milésimos de vida, carregando o meu erro. Sendo obrigada a prosseguir. Vivendo sob a pressão à qual eu escolhi. Eu tomei. Eu me justifiquei - e não quis viver infeliz. Eu rejeito a minha arte porque ela me detém ao vazio. Eu rejeito a minha entrega às vistas do que eu pretendo traçar. Sabendo que a vingança é certamente o meu fracasso. Tratando do destino como um ser inanimado e, ao mesmo tempo, vivente. Capaz de me ordenar ao banco dos réis pela ingratidão que me degusta ao passo que vivo e deixo de ser.

sábado, 5 de março de 2011

Eu poderia estar suficientemente equivocada a ponto de perceber isso. Em geral minha própria consciência tomaria partido em despedaçar tudo. Em me fazer crer que esta é justamente a trilha a qual eu não deveria seguir. De que não há nada ao redor que possa me meter medo, porque até mesmo um graveto me faria tropeçar. Isso acontece constantemente porque ninguém o nota. Olha e não olha. Pega e não sente. Quebra... E, é claro, não se dá ao trabalho de consertar. O mais minúsculo de todos os seres deve ser temido. Eu perdi a arte de confiar - em qualquer coisa que seja, desde que habite o mesmo mundo que eu. Desde que esteja vulnerável a sofrer. Porque a tendência é seguir a regra à risca. A tendência é te fazer chorar também. Eu não percebia quão gigantesca era a persuação que impunha à mim mesma. Eu realmente me equivocava a cada passo que dava. E seguia com um sorriso no canto dos lábios como quem procurava - e encontrava - o final de um arco-íris.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Eu estou perdendo lentamente. Eu não sei sequer qual nome atribuir à isso. Mas eu estou perdendo: eu sei, eu tenho absoluta certeza. Escorre pelas minhas mãos. E me apavora saber que, gota à gota, vai partir para sempre. E então vai ser tudo vazio. Nada para cogitar ou pensar. Eu não posso impedí-lo - apenas se vai. Tão e somente. E, neste exato momento, age como se estivesse a me olhar. Aquele olhar maciço. O piscar de olhos me implora algo que eu não tenho a oferecer. Até que chegue o momento. E eu sinto como se necessitasse aproveitar cada segundo enquanto está em mim. Mas eu estou parada. Inerte. Nada a fazer. Porque a idéia de que um dia isso chegará ao fim não me permite vivê-lo.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

E, em uma alegria absurdamente invisível, ele disse, orgulhoso de si: ''Pai, eu pretendo estudar engenharia''. E seu pai, em uma imobilidade absurdamente superior, renegando-se a se satisfazer, acendeu um cigarro e olhou para ele, respondendo-lhe: ''Você precisa parar de ficar tanto tempo no computador''.
Todas as vezes que olhar para a janela. Todas as vezes que tentar avistar algo. Não tem nada que você não saiba. E você percebe a sutil diferença entre olhar e enxergar: a diferença é que não há diferença. Em nada. Tanto em você, quanto nos outros. Tanto na noite fria como num dia de verão. Porque você não sente. E eu me recusei a sentir qualquer coisa. Qualquer sensação - exceto os meus calafrios - não me agrega a nada. Não faz diferença. Esse é o único pensamento que te anestesia da dor. Você não escolheu estar vivo. Você vive num mundo só seu. Entretanto não pôde sequer moldá-lo à sua maneira. Te veio à padrão. Pronto. Entregue. E você o acolheu para si. Essa sua moda. Porque você não escolheu existir. E você vive de uma maneira premeditadamente insuportável. Comandado. Controlado. Sentindo que deve se conter. Que deve guardar para si. Porque você não faz diferença. Nem para o seu mundo nem para o mundo de outrém. Não faz. Não faz nada. Não insiste. Não cogita. Não se mexe. 
Aquele mesmo caminho. Quando as circunstâncias já não te metem medo - porque você consegue prevê-las. Você se conhece tanto que acaba não se suportando. Você  não suporta mais ninguém. Não suporta pensar. Porque existe um peso muito maior do que você pode aguentar sobre a sua alma. E ninguém percebe isso. Ninguém quer levar em consideração o peso que você carrega. Porque, para os outros, não é nada comparado ao que você pode aguentar. Andam dizendo que você é forte. Você suporta - enquanto você não anda sequer suportando a si mesmo. Eles te entopem. Eles não calam a boca. Você não aguenta mais tanta informação. Tanto pensamento, tantas idéias. Tantos caminhos, tantas lamentações. Tanto tempo perdido. Eles acham que você é forte. Eles tentam te convencer a isto. E você sabe. Você pensa para si mesmo, baixinho, com cautela. Mas você sabe: você não tem certeza se vai suportar mais um minuto sequer.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Eu simplesmente odeio a forma como as pessoas se deleitam na vazão. Eu odeio ter que dizer sempre a mesma coisa. Apenas as palavras mudam. Eu passo dias sem cogitar absolutamente nada. Fingindo que estou me cansando. Mas o ciclo continua e isso infelizmente significa que nada mudou. O mesmo silêncio pertubador. Nenhum acontecimento consegue aquecer - eu continuo seca, árida. Congelada. Não importa quão gigantesca seja a conquista. Não importa quão brilhante seja a medalha do primeiro lugar: está tudo congelado. Continuamente congelado. Desde o começo. A contramão ainda continua sendo a melhor escolha. Eu vejo as pessoas indo e voltando. E eu vejo o mesmo chão. O mesmo graveto e a mesma marca na areia. Eu não quero sujar os meus pés.