domingo, 20 de fevereiro de 2011

Eu estou perdendo lentamente. Eu não sei sequer qual nome atribuir à isso. Mas eu estou perdendo: eu sei, eu tenho absoluta certeza. Escorre pelas minhas mãos. E me apavora saber que, gota à gota, vai partir para sempre. E então vai ser tudo vazio. Nada para cogitar ou pensar. Eu não posso impedí-lo - apenas se vai. Tão e somente. E, neste exato momento, age como se estivesse a me olhar. Aquele olhar maciço. O piscar de olhos me implora algo que eu não tenho a oferecer. Até que chegue o momento. E eu sinto como se necessitasse aproveitar cada segundo enquanto está em mim. Mas eu estou parada. Inerte. Nada a fazer. Porque a idéia de que um dia isso chegará ao fim não me permite vivê-lo.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

E, em uma alegria absurdamente invisível, ele disse, orgulhoso de si: ''Pai, eu pretendo estudar engenharia''. E seu pai, em uma imobilidade absurdamente superior, renegando-se a se satisfazer, acendeu um cigarro e olhou para ele, respondendo-lhe: ''Você precisa parar de ficar tanto tempo no computador''.
Todas as vezes que olhar para a janela. Todas as vezes que tentar avistar algo. Não tem nada que você não saiba. E você percebe a sutil diferença entre olhar e enxergar: a diferença é que não há diferença. Em nada. Tanto em você, quanto nos outros. Tanto na noite fria como num dia de verão. Porque você não sente. E eu me recusei a sentir qualquer coisa. Qualquer sensação - exceto os meus calafrios - não me agrega a nada. Não faz diferença. Esse é o único pensamento que te anestesia da dor. Você não escolheu estar vivo. Você vive num mundo só seu. Entretanto não pôde sequer moldá-lo à sua maneira. Te veio à padrão. Pronto. Entregue. E você o acolheu para si. Essa sua moda. Porque você não escolheu existir. E você vive de uma maneira premeditadamente insuportável. Comandado. Controlado. Sentindo que deve se conter. Que deve guardar para si. Porque você não faz diferença. Nem para o seu mundo nem para o mundo de outrém. Não faz. Não faz nada. Não insiste. Não cogita. Não se mexe. 
Aquele mesmo caminho. Quando as circunstâncias já não te metem medo - porque você consegue prevê-las. Você se conhece tanto que acaba não se suportando. Você  não suporta mais ninguém. Não suporta pensar. Porque existe um peso muito maior do que você pode aguentar sobre a sua alma. E ninguém percebe isso. Ninguém quer levar em consideração o peso que você carrega. Porque, para os outros, não é nada comparado ao que você pode aguentar. Andam dizendo que você é forte. Você suporta - enquanto você não anda sequer suportando a si mesmo. Eles te entopem. Eles não calam a boca. Você não aguenta mais tanta informação. Tanto pensamento, tantas idéias. Tantos caminhos, tantas lamentações. Tanto tempo perdido. Eles acham que você é forte. Eles tentam te convencer a isto. E você sabe. Você pensa para si mesmo, baixinho, com cautela. Mas você sabe: você não tem certeza se vai suportar mais um minuto sequer.