segunda-feira, 8 de outubro de 2012



Tantos cheiros, tantas dores, tantos quereres. Tanto tempo, tanto. Tanto aquilo, tanto isso. Tanto nada. Pouco de muita coisa. Somam-se a fim de, pura e simplesmente, subtrairem-se. Subdividem-se na corja do necessário, do chucro. Somam-se na eternidade do comum. E perdem-se. Resquício de gente que não foi gente. Gente que não viveu. Gente que verdadeiramente morre enquanto vive. Um dia a mais é, em verdade, um dia a menos. E eles mal percebem – deveriam ser tão ansiosos por viver quanto eu sou por manchar esse papel com uma palavra qualquer. Entretanto, anseiam enlouquecer a si mesmos, aos outros e perpetuar essa loucura. Anseiam deformar-se mutuamente. Anseiam padecer e, um dia, morrer – muito provavelmente culpando ao acaso. Pobres suicidas.


Vejo-me assim ao acordar. Acordo novamente, como nas inúmeras outras vezes - despida de mim mesma. Lentamente, as horas, minutos e segundos me corrompem. Há uma proporção. Lentamente, o dia transforma-me em alguém que não sou. E mesmo todo o esplendor solar altera a essência da minha melhor expressão. A um certo ponto, meus olhos quase se fecham. Quase se fecham de maneira a me incomodar. Questiono como pode a bela e magnífica luz do sol ser tão irritante aos olhos... Subitamente, pela primeira vez, o dia se passa e, com ele, a minha pessoa se perde em algum canto qualquer por onde passei. Eu abandono várias de minhas facetas durante um único dia. E, quando dou conta de mim, já se passaram meses e anos. Corromperam-me de tal forma que perdi-me inteiramente, semelhante a uma cobra que troca de pele. Tão nova, uma página em branco... Mas já não sou mais eu.

domingo, 20 de maio de 2012

Cheguei aqui rastejando. Como rastejei. E como de praxe, ignorei todas as placas e sinais. Apenas coloquei a venda, limitei todos os meus sentidos. Essa droga depositada em meu sangue, corre e bombeia os meus pensamentos. E essa dose de consciência quase pesada, quase se deixando persuadir. E essa taça de ausência, condescência, inconveniência. Tudo ao meu corpo, porém alçança minha alma e meu espírito. Tudo o que lá fora vagueia, no externo de mim mesmo... Agora tão dentro, tão eu. Tão e somente, pura e simplesmente. É como um resumo: uma opinião mal fundamentada de um terceiro. A venda cai lentamente. Na verdade, o nó sempre esteve frouxo, a fim de que se desfizesse em um ato de desespero. Eu propositalmente escondi meus olhos na intenção de desvendá-los, mais tarde. Talvez esse fora o único momento em que estive em total sobriedade. E agora nem é tão tarde ainda... É tão cedo e já me rendi.

domingo, 13 de maio de 2012

Mas que vazio! Que medonha toda essa coisa. Faz até eco. Enche as paredes de vida - elas parecem ter alguma espécie de sensibilidade para saber tudo o que eu penso ou cogito. Mas que falta de razão! Nenhum raciocínio lógico se apresenta ou toca a campanhia. Não há um percurso, uma receita. Nada como a matemática... Dois mais dois são quatro.
Tenho tentado diferentes cores. Tenho sentido diferentes odores. Tenho avistado melhores paisagens que, de tão diferentes, não compõem retrato algum. Tenho tido devaneios em minha própria personalidade. Tenho tido carência, inconsciência. Tenho usado armas brutais contra a minha própria vivacidade. Tenho tido certo nojo e uma repugnância, certamente desnecessária, por tudo isso. Cheguei até aqui assim, desse jeitinho. Sorri de todas as formas - até do lado avesso. Costurei as roupas rasgadas e joguei fora as manchadas. Tenho estado cansada.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Essa grosseria de preceitos. Impregnante, repugnante. É como correr correndo, sentir sentindo, amar amando... É tão e somente cinza. Não tem cheiro - pelo menos nenhum apto a conceder vida a tal martírio. Acostumaram-se com o cheiro de chuva e as roupas desbotadas. Eu sinto que tudo isto é uma afronta a minha capacidade de, ardentemente, desejar. E talvez por uma multidão de hipocrisias eu jamais o descreva com precisão. Mas é certo: meus olhos veem, meu coração sente, meus pulmões respiram, meu corpo presencia, minha alma o detesta. Entretanto, meu consciente é incapaz de reproduzir tamanha divergência entre enredo e ação. Vida e viver.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sonhando acordado. Fingindo que sonha. Fingindo crer que tudo é tão possível quanto desprezível. Está tudo tão ao seu alcance. Vive por se vangloriar de sua existência enquanto, em verdade, não garante sua própria sobrevivência.